segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Cangaços.

Contudo, é necessário salientar que não se pretende aqui investir numa discussão sobre a heroicidade ou a vilania dos cangaceiros. A posição adotada se refere ao banditismo social, trabalhado por Eric Hobsbawm em Bandidos (1975). Segundo o autor, o banditismo social se trataria de

“uma forma de rebelião individual ou minoritária nas sociedades camponesas. (...) O ponto básico a respeito dos bandidos sociais é que são proscritos rurais, encarados como criminosos pelo senhor e pelo Estado, mas que continuam a fazer parte da sociedade camponesa, e são considerados por sua gente como heróis, como campeões, vingadores, paladinos da Justiça, talvez até como líderes da libertação e, sempre, como homens a serem admirados, ajudados e sustentados.”

Desta forma, os cangaceiros serão tratados como indivíduos marginalizados, originários, de um modo geral, das classes pobres rurais, oprimidos por um sistema econômico e político que privilegia os grandes proprietários e expropria o pequeno produtor. O apelo à criminalidade e à ilegalidade é, neste caso, uma forma de garantir a sobrevivência e a violência é uma estratégia de defesa do bando.

Neste sentido, é possível perceber a ambigüidade do fenômeno do cangaço, manifestada claramente no imaginário popular acerca destes grupos: ao mesmo tempo em que são apresentados como facínoras perversos, são mostrados como dotados de grande generosidade para com os pobres, realizando atos de caridade para os mais humildes e protegendo-os contra os desmandos dos poderosos.

Diante disto, o presente artigo tentará examinar o cangaço sob um ponto de vista que leve em consideração estas ambigüidades, conflitos e alianças que marcaram a história destes bandos, entendendo-os como atores históricos que tiveram um importante papel nos arranjos políticos e nas disputas de poder do Nordeste da República Velha.

Postado por: Gabriela Rodrigues

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